sexta-feira, 30 de julho de 2010

Podemos tachar um país sem ter nascido ou morado lá?

Um estrangeiro que visita apenas o Sul do Brasil vai voltar para casa dizendo: brasileiro é viciado em chimarrão.

Álvaro Garneiro tem um programa de viagem chamado "50 por 1".
É um programa que fala de lugar de rico para muito rico.  Ele mostra: Ibiza tem isso, "se você tiver dinheiro para tal" se não tiver a coisa é bem diferente... Ai é outra Ibiza...

Sou jornalista, e quando lancei o livro "Intercâmbio: ai vou eu!", em muitas entrevistas o repórter perguntava: acha que o guia de viagem vai acabar?

Eu sempre respondia que não, porque blogs dão dicas, ajudam, mas é tudo sempre perfeito. São opiniões, não pesquisas. As pessoas acabam querendo mostrar que tudo foi lindo e cometem um erro, ao meu ver, crucial: tal lugar É assim. As pessoas SÃO assim.

Quando fiz meu segundo intercâmbio em Vancouver conheci um turco casado com uma brasileira. Ela era nordestina e ensinou português para ele. Quando ele abriu a boca quase cai para trás. Falava um português carregado de sotaque nordestino. E terminou dizendo: é assim que os brasileiros falam sim! Toda a família da minha esposa fala assim!

Minha mãe vive na ponte aérea Brasil x Holanda. E sempre brigo com ela dizendo: pare de dizer que os holandeses "são" assim, "todos" gostam disso!
Outro exemplo? Quem viaja para Jerusalém acha que a cidade representa Israel inteiro. Esqueça! Tel Aviv é outro mundo! Esqueca a segurança total. Tem gente pedindo na rua, bar vendendo bebida até de madrugada. Perto da rodoviária você acha que está no Harlem em NY. Religião? Onde? Ai leio em muitos blogs a pessoa dizendo: Israel É assim, só porque visitou Jerusalém. No Juntos pelo mundo, um dia desses, um menino gay deixou um recado falando sobre sua liberdade de escolha em Tel Aviv.


Mais exemplo: Quem vai a Petra NÃO conhece a Jordânia. Amman é TUDO diferente! Preços, pessoas, paisagem.
Sempre que viajo para um país, principalmente os mais "exóticos", faço questão de ir de ponta a ponta. Mesmo assim, saio de lá sem saber dizer como é o país. Por menor que seja, vide Israel, mínimo, sempre tem diferenças gritantes!

No Juntos pelo mundo, eu sempre digo: onde EU fui EU VI desta maneira. Este não é o certo nem errado, mas sempre que leio blogs de relatos de viagens, vejo programas de TV onde dizem: tal lugar É assim, as pessoas SÃO assim, fico pensando... Dar sua impressão é diferente de generalizar. Será que sou rigorosa demais ou... Podemos tachar um país sem ter nascido ou morado lá?

10 comentários:

Unknown disse...

Então, eu não acho que só se pode falar de um país se tiver nascido lá, até porque "nascer lá" não significa "conhecer lá", eu por exemplo sou brasileira e não conheço a Amazônia, o Acre e alguns estados, já, por morar na Irlanda e me INTERESSAR conheço mais dos irlandeses do que dos brasileiros.

Todo brasileiro que chaga aqui e trabalha em PUB, diz que todo o irlandes é alcoolatra, se eles trabalham em restaurante, dizem que arrotam na mesa, se eles trabalham em lojas humildes do centro da cidade dizem que os irlandeses não tomam banho e por aí vai, já eu, honestamente, nunca pressenciei ou conheci um alcoolatra, sim, a MAIORIA gosta de beber uma cerveja, meu marido está incluso, mas daí achar que a pessoa bebe todos os dias é demais.

Estou com você, também não gosto de generalizações, até porque, se fosse assim, todas as brasileiras seriam só bunda, certo?

beijos

PAULA OLIVEIRA disse...

Ah, adorei o texto. Concordo plenamente ... conhei uma área da Itália de depois tive oportunidade de conhecer outras regiões ... que são incrivelmente diferentes ... isso para citar apenas um exemplo ...
Gostei bastante, parabéns!

Cheers! Fla disse...

Concordo com tudo!!! No meu blog eu tento na maioria das vezes (acho que sou bem consistente, mas com certeza alguem apontaria o dedo e diria: "naquele dia vc nao falou assim..." :-) )colocar sempre que eh na MINHA opiniao, ou na MINHA experiencia, etc. Uma vez minha ex-chefe inglesa disse: "Conheco brasileiros de longe", mas ai passou uma loira, eu perguntei se ela sabia de onde ela era e a minha ex-chefe falou que nao sabia, pois era brasileira. O Reino Unido eh uma regiao micro em comparasao com o Brasil e o ingles da Escocia eh totalmente diferente do da Inglaterra que eh totalmente diferente do Pais De Gales, mesmo dentro da Inglaterra, a diferenca na lingua eh imensa!
Varios blogs comentam tipo: "tal lugar eh sujo, nao gostei deste lado da cidade, mas no dia seguinte qdo fui em tal praca, tudo era maravilhoso", mas como vc disse, outros jah nao, tentam passar aquela imagem perfeitinha que tudo eh lindo, tudo foi maravilhoso ou tudo eh feio e tudo foi pessimo.

O esteriotipo eh uma coisa bem feita, mas acho que todos nos estamos sujeitos a fazer, eh muito mais facil.

Marcia P. disse...

Flávia,
Estou contigo!
Julgar sem conhecer! Quantas vezes fizemos isto?!
Tempos atrás, li num blogue de um português, que, segundo ele, brasileira é sempre puta e brasileiro é bandido. Não resisti, e perguntei-lhe se tal conceito era conhecimento de causa. Respondeu-me que sim. Respondi-lhe de imediato: diga com quem andas, que te direi quem és.

Beijos,
Márcia - Cascais

Unknown disse...

Conheci seu blog através do blogrol de outros blogs e fui lendo várias postagens antigas... Foi uma surpresa por nunca ter encontrado uma mulher tão insegura em toda minha vida! Talvez eu até pudesse pensar que seria muito corajoso de sua parte expor tantos medos, questionamentos, fraquezas... mas pensando bem... como uma pessoa pode ter tantos medos, questionamentos e fraquezas? Lógico que temos nossas angústias, tenho 26 anos e tbm tenho as minhas... mas vc me soou tão escrava de padrões... tão Peter Pan. Não conheço nada de vc e essa pode ser a minha visão superficial... Mas me pareceu tão contraditório alguém que acha que o mundo acaba aos 30 anos, tentar elucidar os questionamentos alheios, se nem mesmo sabe o que fazer com os seus...

Ich, Hausfrau disse...

é claro que não podemos taxar um país baseados apenas em nossas viagens e opiniões alheias.. fui para BA em Junho crente que não iria gostar tanto da viagem por se tratar da Argentina... saí de lá com outra opinião... hoje, comento que fui pra lá e muita gente fala que foi mal recebido e tals.. eu não tenho do que reclamar.. a opinião dos lugares que vc vai, depende muito se vc está de coração aberto para aceitar essa nova cultura e suas diferenças..

Depois dos 25, mas antes do 40! disse...

Ei Ana! Tentei entrar no seu blog, mas seu perfil não permite. Obrigada por sua visita, e desculpe minhas inseguranças. Mas, na verdade, sou jornalista e esse blog tem a função de elucidar não só minhas inseguranças, mas a de várias mulheres que encontro ao longo da minha profisão.

Beijos para você e obrigada pela visita!

Luciana disse...

Eu acho que nem nascendo, porque muita gente nasce num ponto do país e dali näo sai, mesmo que viaje e veja outros lugares, algumas vezes a visäo é bitolada mesmo e pronto. Também odeio generalizacões, sempre tento mostrar que as coisas aqui na Noruega não são uma só, e que de Norte a Sul desse pequeno país, pequeno comparado ao Brasil, há muitas diferencas, as pessoas são diferentes, até mesmo quem nasce no mesmo lugar, na mesma família, enfim, generalizar é burrice mesmo. Faco como você e sempre escrevo sobre o aqui, o que conheco, e ainda destaco que nada é igual, melhor não generalizar.

Beijo

Unknown disse...

Muito boa essa postagem. É aquela velha história dos estereótipos. Fico pensando no tamanho enorme do nosso país, das diferentes realidades. Será que conseguiríamos chegar num consenso sobre quem vive aqui?
Bjss

Laély disse...

Oi, Flávia!
Cheguei aqui, através do blog da Carmem Tristão.
Achei interessante esta postagem, porque a maioria das pessoas tende a julgar assim, pelo geral( olha eu aqui, generalizando!...). Estereotipar é a regra.
Veja o comentário da Ana, por exemplo: ao mesmo tempo que admite não conhecer você, afirma, enfaticamente, ser você "assim, ou assado"!
Moro no sudeste há 15 anos, mas sou do norte, do Amazonas. Já cansei de ouvir pessoas emitindo opiniões sobre o povo, ou sobre a região, sem nem ao menos ter ido por lá! É porque "fulano disse", porque "vi na tv, assim", "porque li, assado..."
Por isso é que eu gosto dos programas de turismo culinário como o de Anthony Bourdain e o de Andrew Zimmern: eles se imiscuem no meio do povo, comem o que todos comem, "estão, onde o povo está"! São camaleões e isso, não quer dizer que não tenham opinião, nem gosto, nem personalidade. São mais divertidos e parecem divertir-se mais, não acha?!
Claro que julgamentos dependem também das nossas experiências pessoais, mas quando nos dispomos a nos despir de preconceitos e a olhar, com os olhos das outras culturas, essas avaliações são mais imparciais e produtivas.
Um abraço e, como costumava falar meu sogro:
"Os cães ladram e a carruagem passa..."
Siga em frente!

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